É verdade que no Brasil não tem montanhas?

Você já deve ter ouvido alguém dizer que no Brasil não tem montanha de verdade. E aí bate aquela dúvida: será que é mesmo verdade? O país é enorme, com serras e picos espalhados em vários estados. Então de onde vem essa ideia de que o Brasil não tem montanhas?

A resposta é mais complexa do que parece. Esse texto vai explicar com clareza o que realmente são montanhas de acordo com a geografia, como elas se formam, quais são os principais relevos do Brasil e onde ficam os maiores picos do país. Spoiler: sim, o Brasil tem montanha, mas não do jeito que muita gente imagina.

O que é considerado uma montanha de verdade?

Antes de afirmar se o Brasil tem ou não montanhas, a gente precisa entender o que caracteriza uma montanha de forma técnica.

Segundo definições aceitas por geógrafos e entidades internacionais:

Montanha é uma elevação natural do terreno com mais de 300 metros de altura em relação ao terreno ao redor.
Algumas definições exigem mais: que tenha altitude acima de 1.000 metros em relação ao nível do mar.
Ela também deve ter um relevo acidentado, encostas íngremes e um ponto culminante bem marcado (o topo).

Mas existe variação nessas regras dependendo do país. O que um inglês chama de hill (colina), por exemplo, um brasileiro pode chamar de morro ou até de serra. Já os Andes, no Chile e Argentina, são montanhas com mais de 6 mil metros de altitude, e essas sim são as montanhas clássicas que a gente vê em cartões-postais nevados.

A origem da confusão: Brasil é um país velho geologicamente

O motivo principal dessa ideia de que o Brasil “não tem montanha” está no tipo de relevo predominante por aqui. Nosso território é formado principalmente por planaltos antigos e usinados pela erosão, o que faz com que as elevações tenham formatos mais suaves e arredondados.

Diferente de regiões como o Himalaia ou os Andes, que são cadeias de montanhas jovens, ainda em formação, com terremotos e vulcões, o Brasil é um país estável do ponto de vista geológico.

Isso quer dizer:

Não temos terremotos fortes
Não temos vulcões ativos
Não temos placas tectônicas colidindo por aqui

Por isso mesmo, nossas montanhas têm aparência mais desgastada, com morros e serras que podem passar a impressão de que são apenas “altos morros”, e não verdadeiras montanhas. Mas isso não significa que elas não existam.

O Brasil tem sim montanhas — e algumas são bem altas

Embora o país não tenha cordilheiras jovens e com picos nevados, o Brasil possui diversos picos com altitudes consideráveis, e que se enquadram, sim, na definição de montanha.

Veja alguns dos principais:

1. Pico da Neblina (Amazonas)

Altura: 2.995 metros
É o ponto mais alto do Brasil
Fica na fronteira com a Venezuela, dentro do Parque Nacional do Pico da Neblina
Está dentro de uma região de floresta amazônica

2. Pico 31 de Março (Amazonas)

Altura: 2.974 metros
Segundo ponto mais alto do país
Também localizado na Serra do Imeri, próximo ao Pico da Neblina

3. Pico da Bandeira (Espírito Santo/Minas Gerais)

Altura: 2.891 metros
Terceiro ponto mais alto do Brasil
Um dos mais acessíveis para trilhas e escaladas

4. Pico das Agulhas Negras (Rio de Janeiro)

Altura: 2.791 metros
Famoso por suas formações pontiagudas
Localizado no Parque Nacional de Itatiaia

5. Pedra da Mina (São Paulo)

Altura: 2.798 metros
Um dos picos preferidos por trilheiros e montanhistas
Faz parte da Serra da Mantiqueira

Todos esses picos estão bem acima dos 2.000 metros de altitude. Isso já derruba completamente a ideia de que o Brasil não tem montanhas.

Serrras e cadeias montanhosas no Brasil

O Brasil não tem uma cordilheira como os Andes, mas conta com várias cadeias montanhosas, chamadas popularmente de serras, que cortam vários estados.

As principais serras brasileiras:

Serra do Mar: vai do Espírito Santo até o sul do Brasil, passando por São Paulo e Rio
Serra da Mantiqueira: entre SP, MG e RJ, com picos acima dos 2.000 metros
Serra Geral: no sul do país, com paredões de arenito impressionantes
Chapada Diamantina (BA): formações rochosas imensas, muito visitadas por turistas
Serra do Espinhaço: entre MG e BA, com grande importância histórica e ambiental

Essas regiões são consideradas sistemas montanhosos no sentido geográfico, mesmo que não sejam tão “pontudas” como as montanhas de outros países.

Por que dizem então que “não tem montanha no Brasil”?

Essa ideia vem de alguns fatores:

As montanhas brasileiras não têm neve constante
São mais antigas e desgastadas
O relevo brasileiro tem mais planaltos e planícies do que grandes elevações
A ausência de vulcões e terremotos faz com que os picos não se elevem mais

Por isso, muitas pessoas associam montanha apenas com grandes altitudes, picos nevados e cordilheiras dramáticas, como os Alpes, os Andes, o Himalaia ou as Montanhas Rochosas.

Mas essa comparação é injusta. O fato de não termos picos de 5 ou 6 mil metros não elimina a presença de montanhas no país. Temos, sim, montanhas — e elas são únicas, biodiversas e importantes para o clima, a fauna e a vegetação do Brasil.

O que as montanhas brasileiras têm de especial?

Apesar de mais “baixinhas”, as montanhas brasileiras têm uma importância ambiental e cultural imensa.

Destaques:

Clima: influenciam microclimas em regiões como a Serra da Mantiqueira e o sul de Minas
Turismo: atraem ecoturismo, trilhas, escaladas e observação da natureza
História: muitas dessas regiões foram fundamentais no ciclo do ouro, café e expansão territorial
Biodiversidade: abrigam espécies únicas da Mata Atlântica, do Cerrado e até da Amazônia

Muitas cidades em volta dessas regiões montanhosas também têm cultura própria, como Campos do Jordão (SP), Petrópolis (RJ), Ouro Preto (MG), entre tantas outras.

Não caia nessa de que o Brasil é “plano demais” ou “sem elevações de verdade”. Nossos picos estão entre os mais altos da América do Sul fora dos Andes, e mesmo que não sejam ícones turísticos como o Everest, são valiosos para o país.

Tem montanha no Norte, no Sudeste, no Sul… tem lugar com neve sim (como em Santa Catarina e no alto da Serra da Mantiqueira). A natureza brasileira é rica e diversa, e as montanhas fazem parte desse cenário, ainda que com um perfil mais suave.